sábado, 7 de novembro de 2009

Me perguntam se com esses meus textos tenho alguma intenção de fazer apologia de consumo de álcool. Porra nenhuma. Eu só faço apologia de não caretice. A gente vive numa porra de mundo careta demais e sinceramente tenho ficado de saco cheio disso. Ninguém precisa encher a cara pra ser um cara legal. Há muitos caras legais que conheço que só bebem Fanta Uva. Aliás, Fanta Uva é muito legal. Eu gosto de beber, só isso. Se gostasse de usar drogas , também ia dizer. Todo mundo sabe que alcool faz muito mal pra saúde. Pode matar. Meu pai, por exemplo morreu de atrofia cerebral de tanto beber, porra. Mas o que ninguém diz é que caretice também mata. Você nem percebe, mas tá morrendo. Subserviência e caretice deixam suas bolas do tamanho de bolinhas de gude, maluco. E eu não nego que identifico muito mais dignidade num bêbado de rua que em qualquer desses merdas brandindo talheres milionários em jantares familiares. Dia desses um bebum colou em mim e mandou: "Aí, Irmão, descola uma grana pra mim. É pra cachaça mesmo". Até brinquei com ele parodiando a Regina Casé no extinto Tv Pirata: "Porra nenhuma, Maluco. Você pensa que me engana? Tu tá é a fim de encher a cara de pão". Ele riu. Passei a grana pra ele que foi beber sua cachaça, feliz da vida. Enquanto isso, alguns pulhas se reunem em frente a uma lareira depois do jantar e contabilizam quanto ganharam com o último golpe que deram e que vai reverberar justamente no bebum que tá desempregado e que me pediu dinheiro pra uma cachaça. E enquanto isso suas mulheres estão na sala de estar contabilizando o numero de caralhos que engoliram no último mês. Que se fodam.

(Bortolotto)



Sempre tive um puta tesão por quem escreve com as vísceras. Arrisco até dizer que nem gostaria tanto desse texto se fosse escrito de um forma assim, mais-ou-menos-o-que-passaria-no-jornal-hoje-da-rede-globo.
Todo mundo saca quando um texto é escrito ao som de um blues. É o sangue nas palavras minha perdição.

Sempre foi o sangue.


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