quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Então,

Eu tava lendo agorinha o blog do Mário Bortolotto. Sim, aquele mesmo dramaturgo-escritor-ator-autor-cantor-boêmio, que levou três tiros depois de reagir a um assalto no fim do ano passado. E porra, me deu uma vontade absurda de escrever sobre gente. Não qualquer gente, gente como ele. Gente livre de rótulos, que sente prazer no que faz, que não se vende, que mantém os princípios, que abraça as suas verdades, que fala palavrão e mostra a cara sem medo das represálias. E porra, gente que não é covarde. Que tem peito pra enfrentar um trinta e oito com a mesma coragem que tem pra lutar contra um coma numa cama de uti.

O cara faz um trabalho do caralho, é Bom, Bom mesmo com B maiúsculo. Bota alma, vísceras, sangue em tudo o que produz, não precisa ser conhecido como o dramaturgo que levou três tiros e quase morreu. E esse é o ponto. Ele não quer ser conhecido por isso. Perdeu sangue, perdeu movimentos, perdeu ossos, mas não perdeu a dignidade. E ele não é o único. Tem uma porrada de gente assim solta pelo mundo. Gente de todas as classes sociais, de todos os credos, de todas as profissões, de todos os lugares do mundo. Gente que inspira outras "gentes" e ninguém fica sabendo. Gente que todo dia faz alguém ter um puta orgulho de trilhar o caminho que escolheu.

É claro que tem o outro lado, o lado de gente que ambiciona riquezas, poderes, status, o lado que prefere julgar pela aparência, que prefere o jogo sujo e bla bla bla.

E eu acho do caralho estar do outro lado dessa roda viva que é o nosso mundo, sem a menor possibilidade de virar a cabeça pra baixo.

E por fim, li um email que um "fã" mandou pro Bortolotto. O cara escreve amadoramente, como eu, e como milhares que eu conheço. E ele diz alguma coisa sobre escrever com a sensação de que o Bortolotto tá sempre colado no ombro dele metendo o bedelho, com toda a delicadeza que lhe é peculiar, nos textos que ele escreve. E isso o faz escrever com mais vontade e com mais víscera também.

É isso, paixões literárias a parte, Clarices, Caios, Guimarães, Adélias que me perdoem, mas é o Bortolotto que provoca sangue nos meus dedos.