sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Era início de verão, ou fim de primavera, tudo sempre depende do ponto de vista. Prefiro optar pelo início de verão porque sempre me senti atraída por começos. Era um dia sem sol e sem chuva, mas nem por isso sem charme. Se viram pela primeira vez sem a proteção dos céus e a poesia do vento, num ambiente, digamos, tumultuado. Ninguém precisa de proteção dos deuses quando se tem vontade, pensaram quase instantaneamente.

Teve um abraço, um abraço esperado há alguns meses. Um abraço de quem já se conhecia mesmo sem se conhecer, e um encantamento que só as expectativas trazem. Conversaram com palavras, toques, cheiros e gostos, quase como uma urgência da alma. Era importante que fosse assim.. Era preciso. Não tiveram tempo de pensar no que havia sido antes, nem no que haveria de ser depois. Não quiseram pensar, não conseguiram pensar. Algo daquele momento os preenchia de uma forma que não deixava espaço pra nenhum outro pensamento, senão estar ali, à sorte do que estavam arriscando viver.

Era certo que naquele momento existia sintonia, que existia carinho, que existia tesão. Assim como era certo que não existiam planos pra depois daquele encontro. E era exatamente essa certeza que os fazia tão vivos e intensos naquele instante. Tenho pra mim que todos os encontros, todos os gestos, todas as ações, deveriam ser assim, concentradas no tempo exato em que acontecem.

Caio Fernando Abreu adora usar a expressão " neste momento ”, e acho, de verdade, que é o único jeito de se viver por inteiro uma situação. Neste momento é quase uma declaração de entrega sem cobranças. É quase a tão sonhada liberdade da espera assustada e insegura pelo que virá depois.
E foi assim que aquele verão começou para os dois. Sabiam que não seria o início de uma história de amor, mas a verdade é que não pensavam em saber o que seria. Não se importavam em dar nomes ou condições ao que estavam vivendo. "Ninguém precisa parecer absurdamente feliz para os outros, para se sentir absurdamente feliz". E viveram. Intensamente viveram.

Gosto de pensar que algumas coisas acontecem, marcam e ficam sempre guardadas. Viver assim, sem cobranças ou expectativas. talvez signifique nunca ter um raio de sol guardada dentro de uma caixinha na cabeceira da cama, mas quem já sentiu a força de um furacão batendo no rosto aprende a fazer seu próprio calor, mesmo cercado de neve.

Nenhum comentário:

Postar um comentário