terça-feira, 8 de setembro de 2009

Penúltimo degrau

Noite. Outra noite. Não é a mesma noite. Ao trancar o portão e sair, quase posso ouvir as engrenagens loucas do caça-níqueis que aciono ao dar o primeiro passo debaixo da luz dos postes. Nunca é a mesma noite. Sempre o lucro, feito noite japonesa, noite ruiva, noite loura, morena, pompoarista, escatofílica, de pés pequenos, de unhas pintadas e, graças, sem pintas enormes nas costas com pêlos descorados. Sempre o lucro, scort e anfitriã.
Tenho de pegar ônibus. Eu não dirijo, pro bem de todos e mal dos meus pecados, mas tudo se compensa. Chego rápido. A vida é curta e o caminho é longo. A noite é sempre outra, nem estreita nem plena demais. Quando saio de casa, eu piso o penúltimo degrau da escada para o céu. O copo na boca mostra que completei a subida. Impossível não sorrir, enquanto o whiskey (assim mesmo, com 'e', como na pronúncia do Mark Knopfler. Essa palavra é dele e minha) bless my soul. Beber é comunhão, crisma.
Alguém esbarra nas minhas costas. O jackpot fechou com morangos.

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